Boato – Estamos na época da lonomia oblíqua. Espécie de taturana é mais venenosa do que cobra cascavel e ainda não existe soro para recuperação para o seu veneno.
Mesmo com a crescente (e constante) urbanização do Brasil, o cotidiano nas cidades ainda nos reserva algumas “surpresas” da natureza. Mosquitos que transmitem doenças e animais peçonhentos são algumas delas. E, de acordo com um texto que circula online, estamos na época da maior ameaça da história: a lonomia oblíqua.
Diversos alertas que circulam na internet dão conta de que essa espécie de taturana está “em sua época”, que tem um veneno sem cura (soro) e que seria “pior do que a cascavel” (seja o que for que isso signifique). Leia um dos textos que circulam online (Facebook e, principalmente, WhatsApp):
Pessoal se vc mora na região de Mata Atlântica SBCampo, Diadema, Santo André, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Baixada Santista e Região de Itapecerica da Serra, Embu das Artes e outras cidades que possui este Bioma, *atenção*. Estamos na época de Lonomia, uma taturana extremamente perigosa , cujo veneno pode provocar hemorragia interna e insuficiência renal, podendo inclusive ocasionar a morte.
Elas ficam aglomeradas nas árvores dessa maneira, que é uma das características dessa espécie. Se virem algo assim mantenha distância e não toque nelas e chame o Instituto Butantan. Insistam pois eles ficarão gratos e será de muita utilidade. Nas arvores do Centro de SA na Oliveira Lima esta cheio.
Lonomia oblíqua. Não existe soro ainda. Pior q Cascavel. A cor dela pode variar de acordo com a região. Porém esse “V” Branco na cabeça é característico e vivem agrupadas igual nessa foto ai.
Lonomia oblíqua não tem soro e é uma taturana pior que cascavel?
A mensagem circulou com versões de outras cidades (não só da região metropolitana de São Paulo) e também em uma, digamos, “versão genérica”. Mas será mesmo que a lonomia oblíqua é tudo isso que estão falando? A resposta é não. Vamos aos fatos.
Para desmentir a história, fizemos uma análise das afirmações do texto e achamos diversos “furos”. Antes disso, vamos deixar claro o que é real na história: 1) As imagens são, de fato, da lonomia oblíqua; 2) A dica de não tocar nelas é, obviamente, válida. 3) Vale a pena, se você vir “um montão” como na foto, comunicar alguma autoridade ambiental. 4) O “V” na cabeça é característico.
Agora, vamos as balelas. O primeiro erro do texto é “limitar” a lonomia a apenas a região citada. A maior parte dos casos acontece na Região Sul do Brasil, mas ela pode ser encontrada em qualquer região próxima à mata Atlântica.
O segundo ponto errado na história é falar que “estamos em época” de lonomia. Na realidade, essa mensagem deveria circular em outubro e não em março. As taturanas costumam aparecer na primavera e no verão e não no outono (que estamos quase adentrando neste março de 2018).
Agora, vamos às partes que “motivaram o nosso desmentido”. É a maior mentira falar que não existe soro para a lonomia. Aliás, o soro se chama soro antilonômico. Esse texto aponta que o soro foi desenvolvido em 1994, justamente pelo Instituto Butantan. Por esse motivo, é importante avisar o Butantan da ocorrência para se seja criado mais soro antilonômico.
Falar que a lonomia é “pior do que a cascavel” também é uma balela. Seja o que for que isso signifique, podemos contestar. Com certeza, as cobras, que podem dar botes se acuadas, são mais perigosas do que taturanas, lagartas e lonomias.
Também é mentira que a lagarta tenha um veneno “pior” do que a cobra. Dados do Ministério da Saúde apontam que houve 48.818 acidentes com lagartas entre 2000 e 2016 com 25 mortes (um óbito por 1952 casos). No caso de ataques de cobras foram 443.067 com 1.793 mortes (um óbito a cada 252 casos). Acho que ficou bem claro que cobras são piores que lagartas.
Resumindo: por mais que o post tenha lá suas boas intenções (apesar que, na minha opinião, a ideia é mais causar impacto com a imagem do que outra coisa), o texto que fala da ameaça da lonomia está cheio de erros. Na dúvida, não compartilhe. E, em caso de contato com o animal, procure um médico.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.