Boato – Os grandes responsáveis pelo surto da febre amarela nos humanos são os macacos. Eles transmitem febre amarela para as pessoas e os matar é a solução.
Dos textos que publicamos no Boatos.org, 99% são de boatos que viralizam na internet e influenciam ações das pessoas na “vida real”. Porém, hoje vamos abrir uma exceção e falar de um “senso comum” que está se espalhando principalmente “fora da web”: a tese de que os macacos têm alguma responsabilidade nos surtos de febre amarela.
Como é sabido, alguns estados (principalmente da região Sudeste) estão em alerta por causa da doença. São Paulo, estado mais populoso do país, teve, do dia 1º ao dia 22 de janeiro de 2017, 111 casos confirmados da doença e 44 mortes. Muitas cidades também tiveram casos de mortes de macacos em áreas de floresta. O grande problema é, ao ponto que “mortes de macacos” por febre amarela são noticiadas, algumas pessoas acreditam que ele é o “transmissor da doença”.
A prova disso está em diversas notícias que apontam que denunciam a morte de macacos por envenenamento ou agressões (praticados por seres humanos). No Rio, a estimativa é de que 69% dos primatas encontrados mortos no último mês foram envenenados ou espancados.
Macacos transmitem febre amarela para humanos e a solução é os matar?
Obviamente, podemos aferir que o aumento dos casos de febre amarela e o assassinato de macacos segue uma relação causa e consequência. E o grande vetor disso é a falta de informação. Sim, porque os macacos não têm culpa alguma na transmissão da febre amarela para humanos. Assim como os seres humanos, eles são vítimas da febre amarela. Mais do que isso, matá-los não é a solução. É um problema a mais. Vamos aos fatos.
O ciclo da doença acontece mais ou menos da seguinte forma. O mosquito (no caso da febre amarela silvestre, dos gêneros Haemagogus e Sabethes) infectado com a doença pica um animal (ser humano ou macaco), que passa a contrair a doença. Se outro mosquito picar o animal doente, ele se infecta e pode passar a doença para outro animal. É aí que está o ponto.
Um animal com febre amarela não infecta diretamente outro animal. Ou seja, a febre amarela não vai ser transmitida de humanos para humanos, de macacos para humanos, de macacos para macacos ou de humanos para macacos. É necessário um vetor (no caso o mosquito) para que a doença se espalhe. Com isso, podemos chegar a uma conclusão inicial: se são os mosquitos que transmitem a febre amarela, não adianta matar os macacos.
Talvez você esteja perguntando, mas e se um mosquito picar um macaco na mata, voar até a cidade e picar uma pessoa? Pois é, isso é impossível de acontecer. Os mosquitos que transmitem a febre amarela silvestre voam, no máximo, 40 a 50 metros distantes das áreas de floresta. Se todo mundo que entrar nesta área de risco estiver vacinado contra doença, ela não vai espalhar. É justamente por isso que áreas próximas a florestas que registraram casos de febre amarela passam por campanhas de vacinação (e é por isso que a vacinação é importante).
Para além de tudo isso, há um ponto importante. Os macacos servem como aliados para se evitar surtos de febre amarela. A morte deles em consequência da doença serve para autoridades epidemiológicas classificarem áreas como de risco. Se não existissem os macacos nas florestas, as autoridades só passariam ter ciência da doença quando humanos fossem infectados. Ninguém quer isso, certo?
Acho que já deu para se convencer que os macacos não são os responsáveis e culpados pela febre amarela, certo? Mas existem mais três informações que merecem ser levadas em conta:
1) Para além do problema da doença, a morte de todos macacos de uma região pode gerar um desequilíbrio ecológico. É difícil saber as consequências, mas há especialistas que falam até em agravamento da situação da febre amarela.
2) O que aconteceria se alguém não vacinado resolvesse viajar para uma região com casos de febre amarela para “matar macacos” e depois voltasse para sua casa? Provavelmente, ajudaria a espalhar a doença.
3) Por fim, um detalhe: se você não sabe, tentar exterminar macacos (ou qualquer animal silvestre) configura crime ambiental. A pena é de seis meses a um ano de prisão. Ou seja: a tese (que circula a boca pequena entre os menos informados) de que matar macacos ajuda a combater a febre amarela, não só é errada como também fará de você um criminoso.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 994325485.