Boato – Uma médica está entre a vida e a morte por tomar a vacina chinesa contra a Covid-19. Ela foi cobaia e está entubada após tomar a substância, que está sendo testada na população.
A CoronaVac, vacina chinesa que está sendo desenvolvida pelo laboratório Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, é apontada como uma das candidatas mais eficientes e seguras no combate ao novo coronavírus. Após testes em 50 mil voluntários na China em setembro, a substância obteve resultados de 94,7% de segurança e 98% de eficácia. Mesmo assim, talvez pelo fato de o vírus ter surgido naquele país (e várias fake news com teorias conspiratórias sobre a China querer “dominar o mundo”), ainda tem muita gente assustada com o assunto.
E um vídeo que está circulando pelas redes sociais, especialmente por meio de publicações no Facebook, está colocando ainda mais medo nos internautas ao trazer a informação de que uma médica estaria entre a vida e a morte por tomar a vacina chinesa contra a Covid-19. Nas imagens, um médico aparece denunciando a suposta situação da colega, dizendo que ela estaria entubada após servir como cobaia e tomar a substância, que ainda está sendo testada.
Mais que isso, o homem reclama pelo fato de alguns veículos de comunicação terem classificado a denúncia como fake news e fala, com indignação, que deseja que a população seja avisada sobre estar sendo usada como cobaia nos testes, além de que a vacina poderia causar vários danos irreversíveis à saúde. Confira, a seguir, o vídeo em questão e as versões do texto original das publicações que estão rodando online:
Versão 1: MÉDICA ENTRE A VIDA E MORTE POR TOMAR A VACINA DA CHINA !!! ESSA VACINA PODE MATAR SIM E CAUSAR DANOS IRREVERSÍVEIS À POPULAÇÃO! Versão 2: Médica que participava dos testes da vacina está entubada entre a vida e a morte. Repassem antes que vão tirar do ar e dizer o mesmo papo (que já tá ficando mais que manjado) que é “fake news”.
Médica está entre a vida e morte por tomar vacina chinesa?
O vídeo da denúncia feita pelo médico viralizou rapidamente, chegando a alcançar 2,3 milhões de visualizações em quase 20 dias em uma das publicações no Facebook. Porém, a informação não se sustenta.
Para começar, a mensagem que está sendo compartilhada carrega todas as características de fake news: é vaga (não fornece informações mais precisas sobre a tal médica que estaria entre a vida e a morte), alarmista (tem caráter apelativo e visa amedrontar os internautas), possui erros de português e não cita fontes confiáveis de notícias que possam confirmar o que está sendo dito.
Em segundo lugar, boatos online sobre vacinas contra a Covid-19 se tornaram bastante comuns na internet. Inclusive, nossa equipe já desmentiu vários deles, como, por exemplo, aquele que dizia que 48 pessoas teriam morrido em Singapura após tomarem vacina chinesa; outro sobre as vacinas da China e de Oxford serem supostamente feitas de DNA recombinante e não terem dado certo em porcos; e até um sobre uma teoria conspiratória que apontava que a data de fabricação da vacina chinesa (abril de 2020) revelaria plano maléfico da China.
No caso de hoje, ao procurarmos pela informação sobre a médica que estaria entre a vida e a morte, descobrimos que a mesma fonte já publicou em outras oportunidades informações que também foram desmentidas por agências de checagem. Desmentimos uma bem parecida com essa história em outro post aqui no Boatos.org e as outras foram verificadas pelo site UOL Comprova, sobre um vídeo que falava sobre repasses de verbas aos estados estarem relacionados aos números de mortos e infectados pelo coronavírus, e pela Folha de S. Paulo, em que, na ocasião, o mesmo homem aparecia defendendo a eficácia da ivermectina.
Assim como nesses outros vídeos, há várias informações erradas na fala do suposto médico no desmentido de hoje. A primeira delas é a que ele reitera que a vacina estaria sendo “testada na população”. Apesar de a vacina chinesa realmente estar em fase de testes, na verdade, ela só será aplicada na população após a aprovação pelos órgãos de vigilância sanitária (no nosso caso, pela Anvisa).
Depois, ele fala sobre um “colega que morreu que tomou a vacina”. Porém, assim como ele errou ao dizer que o tal colega participou dos testes da vacina da China (a vítima participava dos testes da vacina de Oxford), também não provou que ele “não tomou placebo”, só falou. Mais que isso, o homem também apontou que “todos que morrerem vão dizer que é placebo”, outra afirmação infundada e que não prova nada.
Ainda, ele também erra ao dizer que os laboratórios assinaram um suposto termo para “não serem responsáveis por efeitos adversos da vacina” e que, pior ainda, existiria um “golpe de R$ 80 milhões que serão pagos aos laboratórios com dinheiro público”, informações que também foram desmentidas em outros posts aqui (leia o que falava sobre laboratórios terem isenção de responsabilidade civil e outro sobre Bolsonaro ter descoberto plano bilionário de Doria e China).
Além disso, apesar de fazer todo um alarde de que a médica estaria em “estado grave”, o enfermeiro (não médico) também não apresenta qualquer prova. Pelo que apuramos, o vídeo foi gravado em outubro, mas, até agora, não há sequer uma notícia sobre o assunto. Ora, temos que concordar que, se o caso fosse real (como quando houve a suspensão da vacina da China ou a morte do voluntário de Oxford que tomou placebo), já teria sido divulgado. E mesmo que fosse, ele não teria como “descobrir” se algum voluntário tomou a vacina ou placebo, já que o teste é duplo-cego (quando nem o voluntário e nem o médico sabe qual remédio está sendo administrado).
Resumindo: A publicação que dá conta de que uma médica estaria entre a vida e a morte por tomar a vacina chinesa contra a Covid-19 não é verdadeira. Não há qualquer registro ou notícia de alguma médica na situação, a vacina sequer poderia ser testada na população, além de várias outras informações incorretas apontadas pelo homem que fala no vídeo.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99458-8494.
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