Boato – O Zika vírus, que é uma das causas da microcefalia, foi causado por mosquitos geneticamente modificados liberados por empresa britânica.
Mesmo durante o carnaval, um dos assuntos do momento é o Zika vírus e a microcefalia. No meio de tanta gente procurando os motivos para a causa da epidemia, teorias da conspiração começam a aparecer.
Uma dessas histórias dá conta que o Zika vírus foi causado por mosquitos geneticamente modificados. Para quem não lembra, o mosquito transgênico chegou a ser utilizado no Brasil para combater a dengue. Veja o que diz uma das mensagens que fala sobre o assunto:
Em 2011, mosquitos Aedes aegypti, geneticamente modificados foram soltos em algumas cidades brasileiras. Era o começo do Projeto Aedes Transgênico aqui no Brasil. A promessa era de que os mosquitos transgênicos machos copulariam com as fêmeas selvagens e as crias morreriam ainda no estágio larval, sem chegar a idade adulta. Seria maravilhoso se fosse tudo assim, mas não foi bem isso que aconteceu.
É muito provável que ovos do aedes aegypti, geneticamente modificados, tenham sido expostos à tetraciclina, antibiótico que mantém as larvas até a idade adulta, ganhado o mundo já como um novo mosquito, de carga genética diferente do aedes aegypt original. O resultado disso você já sabe: em vez de neutralizar a potencialidade nociva do mosquito transmissor da dengue, essa mutação genética no inseto, trouxe novas doenças para os brasileiros: A Zika e a febre chikungunya. O Zika vírus, entretanto, com consequências devastadoras para as grávidas: a microcefalia em bebes de mães diagnosticadas com a doença, durante a gestação. Os casos não param de aumentar. Deus ajude nossas grávidas!
Junto com o texto aparecia um vídeo de um canal chamado “Verdade Oculta”. Porém, a história não foi exclusividade deles. No exterior, alguns sites (também ligados a teorias da conspiração) também falaram sobre o assunto. Mas será mesmo que é verdade? Pelo o que tudo aponta, não. Vamos aos fatos.
Você pode até acreditar que o Zika vírus foi distribuído para um “controle de população”, blá, blá. Pois bem, disso a gente não vai falar (neste post), mas o fato é que tudo que fale a respeito disso não passa de conjectura, chute. Não há uma prova que realmente ateste isto.
Agora vamos falar da história do mosquito geneticamente modificado. Para começar, o Zika vírus não surgiu após a soltura dos aedes aegypti transgênicos na natureza. De acordo com esta matéria da Discover Magazine, a primeira epidemia aconteceu na Polinésia Francesa em 2003. Ou seja, em data anterior aos textos e em locais diferentes do dito no vídeo (Ilhas Cayman em 2006).
No Brasil, o similar aconteceu. Em 2011, aconteceram testes na cidade de Juazeiro (BA). No ano passado, os testes aconteceram no interior de São Paulo. Em Pernambuco, onde aconteceu o ápice do Zika, não aconteceram testes.
Sobre a tetracilina. O antibiótico é utilizado para controlar o gene modificado do mosquito e evitar que ele morra em laboratório. Ou seja, ele dá uma sobrevida a ele. Agora tem dois detalhes: isso só é feito em laboratório e NÃO há quantidade de tetracilina suficiente na natureza para o mosquito.
Para além disse (e mais importante) é a ligação do aedes aegypti e a tetracilina. Primeiro, este trabalho acadêmico é categórico ao afirmar que mesmo que o mosquito tivesse contato à tetracilina na natureza, o tempo de vida não aumenta.
“Estes estudos demonstram que as potenciais vias de exposição dos indivíduos OX513A [mosquito transgênico] à tetraciclina e seus análogos no ambiente não são esperados para aumentar a sobrevivência de OX513A.”
Para terminar, o The Guardian acertou na mosca ao se atentar para um detalhe. A mudança do DNA do mosquito não tem como ter relação com o Zika porque ele é um vírus RNA.
Sendo assim, podemos afirmar que a história que fala que mosquitos transgênicos causaram o Zika vírus não passa de mais uma teoria da conspiração que circula na internet. Pelo menos por enquanto e do jeito que está sendo contada, a história não se sustenta.
PS: Esse artigo foi uma sugestão do leitor Benevides Freitas. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.