Boato – Foi comprovado que a Nitazoxanida (também conhecido como Annita) é a cura da Covid-19. O remédio reduz a Covid-19 em 94%.
Felizmente, já temos uma das maiores armas para enfrentar a pandemia da Covid-19. Com a vacinação em massa, o Brasil já consegue vislumbrar uma luz no fim do túnel em relação à situação crítica que passamos. Mesmo assim, ainda há gente tentando “vender” outras esperanças “substitutas”.
De acordo com mensagens que estão circulando em redes sociais junto com um vídeo do ministro do MCTI Marcos Pontes, a Nitazoxanida foi descoberta como a cura da Covid-19. O remédio reduziria a doença em 94%. Leia algumas das mensagens que circulam online e também às legendas do vídeo em questão:
Versão 1: MINISTRO MARCOS PONTES APRESENTA ESTUDO QUE NITAZOXANIDA REDUZ EM 94% A TRANSMISSÃO DO CORONAVÍRUS! Versão 2: O que vão dizer agora depois que comprovaram cientificamente que o medicamento brasileiro NITAZOXANIDA reduz 94% a transmissão do Corona-virus ? Versão 3: Testado e aprovado. A esperança… Deus não abandona os seus! Obrigado senhor! Vamos salvar vidas! Compartilhe o máximo que você puder!!!
Nitazoxanida reduz Covid-19 em 94% e é a cura da doença?
Mesmo com todo o cenário que descrevemos no início da mensagem, o anúncio em questão fez sucesso na internet. Só há alguns detalhes. 1) O anúncio é antigo. 2) A Nitazoxanida não é a cura da Covid-19. 3) Desmentimos o boato no ano passado.
O vídeo em questão é de outubro do ano passado. Na ocasião, o ministro Marcos Pontes chamou uma coletiva para anunciar que o remédio em questão havia reduzido a carga viral em alguns estudos que foram promovidos no país.
Após o anúncio, muita gente acabou elegendo a Nitazoxanida como a cura da Covid-19 (assim como muitos fizeram com outros remédios como a hidrozicloroquina e a ivermectina). Só que na época, falamos que o anúncio, nem de perto, significava cura. Relembre o que escrevemos sobre o assunto:
Na verdade, o evento realizado no dia 19 de outubro de 2020 não tinha como objetivo apresentar a nitazoxanida como a cura para a Covid-19. Na ocasião, o ministro Marcos Pontes apresentou o primeiro resultado “positivo” do estudo clínico promovido pelo governo federal. A conclusão de que a substância seria a cura para a doença surgiu a partir de interpretações equivocadas do estudo. Além disso, o próprio ministro Marcos Pontes afirmou que a substância seria “uma ferramenta” no enfrentamento da Covid-19 e não uma solução para a doença.
Durante o evento, a própria professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Patrícia Rocco, que também é coordenadora do estudo clínico, afirmou que a nitazoxanida não pode ser colocada como uma “bala de prata” para a cura da Covid-19. Apesar disso, ela destacou que o estudo foi bem conduzido e que os primeiros resultados foram animadores.
Vale destacar que o estudo ainda é preliminar, isto é, ainda não foi aceito para a publicação em uma revista científica e, portanto, não foi revisado por pares. No mundo acadêmico, esse processo concede validade científica a um estudo (“comprovado cientificamente”), uma vez que outros cientistas podem avaliar e replicar o estudo para identificar se os resultados são os mesmos. Enquanto a pesquisa não é validada por esse processo, ela não é considerada válida perante à academia e o mundo científico.
Além disso, ao analisar o estudo, diversos especialistas encontraram falhas e inconsistências na pesquisa. A primeira delas foi a não divulgação dos resultados da pesquisa no evento conduzido pelo MCTI. Durante o evento, os pesquisadores não apontaram dados sobre a pesquisa, apenas indicaram que a substância teria funcionado. De acordo com o governo, os dados só seriam divulgados em uma revista internacional (sem citar o nome) e que, por isso, deveriam manter o caráter “inédito” do estudo. Porém, segundo pesquisadores, o ineditismo seria justificado apenas se houvesse uma patente envolvida no estudo, o que não é o caso.
Dias depois, o pré-print (o material que foi submetido para publicação) mostrou que a história não era bem assim. Segundo os dados divulgados no artigo, a nitazoxanida foi capaz de reduzir a carga viral, porém, não os sintomas analisados (como tosse, febre e fadiga) e muito menos os números de hospitalizações. Em resumo, não houve diferença no processo de recuperação dos pacientes que tomaram a substância e daqueles que tomaram placebo. Além disso, os próprios pesquisadores do estudo admitiram que a pesquisa possui uma série de limitações.
Se isso não fosse suficiente, o objetivo inicial do estudo não era identificar se a substância nitazoxanida era capaz de reduzir a carga viral. De acordo com o protocolo registrado na plataforma de registro para ensaios clínicos, o objetivo do estudo era determinar se a nitazoxanida era capaz de reduzir o tempo dos sintomas (febre, tosse e fadiga). Ou seja, a descoberta foi algo secundário. Além disso, o protocolo só foi registrado em meados de setembro, meses depois que os testes foram iniciados, e diversos participantes acabaram sendo excluídos do resultado final.
Por fim, contatamos a doutora em microbiologia, Natalia Pasternak, para esclarecer mais algumas dúvidas. De acordo com a microbiologista, a nitazoxanida não pode ser considerada uma cura e sequer um tratamento para a Covid-19. “O próprio estudo mostra, claramente, um resultado negativo. A nitazoxanida não foi capaz de reduzir os sintomas de tosse, febre e fadiga, que era a proposta do próprio estudo”, afirma ela.
Ainda segundo a microbiologista, o resultado secundário, isto é, a descoberta da redução da carga viral é questionável, uma vez que uma série de limitações foram identificadas no estudo. “Se é que, realmente, aconteceu essa diminuição de carga viral, o que é discutível, de acordo com a forma como os resultados foram apresentados, é irrelevante para a transmissão, pois foi medida em um momento onde as pessoas já não estão na janela contagiosa”, ressalta. Natalia Pasternak ainda destaca que o que ocorreu foi uma tentativa de “espremer um resultado positivo” frente ao fracasso do objetivo inicial da pesquisa.
Passado mais de um ano, a situação em relação ao remédio não mudou muito. A prova disso está na própria decisão da Conitec e do Conselho Nacional de Saúde sobre o remédio em questão (e sobre outros). Leia:
Há benefício clínico, porém não é possível recomendar seu uso de rotina: anticorpos monoclonais. Então, sem recomendação, certeza da evidência moderada. Não recomendado (evidências ausentes ou insuficientes): anticoagulantes, budesonida, colchicina, corticosteróide sistêmico, ivermectina, nitazoxanida e plasma convalescente. Não recomendado (evidência não mostram benefício clínico): azitromicina, e cloroquina/hidroxicloroquina. Não há medicamentos específicos recomendados de rotina para tratamento de paciente ambulatorial com Covid-19.
Resumindo: o vídeo que está circulando online é desatualizado e, passado mais de um ano após ele, podemos reiterar que a Nitazoxanida não é a cura da Covid-19. Até o momento, a melhor arma que temos é mesmo a vacinação em massa.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.
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