Boato – Nova cepa da Covid-19 ataca o fígado, causa hepatite não-medicamentosa e desencadeia novos sintomas. Não é a ivermectina e cloroquina que provocam isso.
Quase um ano e meio depois do início da pandemia da Covid-19, diversos estudos científicos a respeito da doença e que refutaram supostos medicamentos milagrosos que poderiam servir como tratamento, ainda tem gente que anda acreditando em fake news na internet.
Dessa vez, a história que está circulando nas redes sociais afirma que a nova cepa da Covid-19 teria o poder de atacar o fígado humano e causar hepatite. De acordo com o vídeo que acompanha a publicação, a nova cepa não atacaria o rim, como divulgado anteriormente.
Ainda segundo a história, os sintomas da nova cepa seriam a garganta arranhando, espirros, dor de cabeça e até mudança no comportamento. De acordo com o vídeo, as pessoas deveriam iniciar o tratamento precoce com dois medicamentos que seriam processados pelo intestino (e não pelo fígado). “Fique atento com a nova cepa do Covid . Ataca o fígado , garganta e dor de cabeça”, diz uma das mensagens que circulam online. “Cepa P1 do Covid-19. Esta atacando o fígado. Veja a matéria”, aponta outra. Leia a transcrição do vídeo:
Transcrição: “A nova cepa ataca o fígado. Estou gravando esse vídeo para você me ajudar a salvar vidas. E atenção, médicos! A nova cepa, ela não ataca, necessariamente, o rim como era anteriormente, mas ela ataca o fígado. E a gente fica esperando aquele, aqueles sintomas clássicos da anterior: a perda do paladar, perda de olfato. Não tá acontecendo agora nessa cepa P1. Febre, diarreia, tosse, necessariamente, não está acontecendo com essa cepa P1 e pessoas estão morrendo, porque elas não sabem desses novos sintomas. E os médicos ainda, alguns, não se aperceberam. A cepa P1, ela tem nova característica: garganta arranhando, espirros e dor de cabeça. Então, garganta arranhando parece uma gripezinha, né? Garganta arranhando, espirros e dor de cabeça, corra para o médico e peça o protocolo precoce. Segundo o dr. Albert Dickson, ela, houve uma mutação: a mudança até no comportamento. E entrar com o tratamento precoce no início pode salvar vidas. Ela se adaptou e agora ataca o fígado. Anteriormente, atacava o quê? O pulmão e o rim. Agora é o pulmão e o fígado, por isso que o paciente chega no hospital com uma hepatite e o médico pensa que é por causa do excesso de medicamentos. Não é, doutor. É uma hepatite não-medicamentosa, porque a cepa P1 está atacando o fígado e nós temos que tomar atenção a isso e salvar vidas. […] Tomar analgésico agora agrava o quadro, porque o analgésico é processado no fígado. Já a ivermectina, 94% ela é processada no intestino. Então, é através do intestino. […] Gera hepatite, a hepatite não-medicamentosa, então, o médico precisa fazer o exame e já entrar com o protocolo […]”.
Nova cepa da Covid-19 ataca o fígado e causa hepatite?
A informação caiu como uma bomba nas redes sociais, em especial, no Facebook, no YouTube e no WhatsApp. E deixou muita gente preocupada. Apesar disso, a história não passa de balela. A explicação fica por conta das informações equivocadas sobre a ivermectina e os próprios sintomas da doença.
Basta olhar para a publicação para ficar com uma pulga atrás da orelha. Ela apresenta as principais características de fake news na internet, como o caráter vago, extremamente alarmista, os erros de português e a falta de fontes confiáveis.
Ao assistir o vídeo, é possível perceber que o homem que aparece nas imagens dá diversas informações equivocadas sobre a ivermectina e o tal tratamento precoce. Para começo de história, não é verdade que o tratamento precoce possa curar um infectado pela Covid-19.
A ivermectina já é usada há bastante tempo por suas propriedades antiparasitárias e antiinflamatórias, especialmente, no tratamento contra piolhos e lombrigas em humanos. E muito provavelmente você já deve ter utilizado o medicamento para o tratamento de sarna e carrapatos dos seus pets.
O medicamento não possui ação antiviral e, por isso, não seria possível combater ou curar a Covid-19. Toda a desinformação sobre o suposto uso da ivermectina contra a doença começou em abril de 2020. Na época, um estudo australiano buscava entender a interação entre o remédio e o vírus SARS-CoV-2. A pesquisa demonstrou que a ivermectina (em dosagens altíssimas e tóxicas para humanos) conseguiu combater o vírus em células in vitro (em laboratório). Entretanto, o resultado não se repetiu nos testes in vivo (em humanos). O próprio fabricante do medicamento já se pronunciou sobre a ineficácia do medicamento contra a Covid-19.
Se isso não bastasse, nos últimos meses, médicos e instituições de saúde têm relatado o aparecimento de diversos casos de hepatite medicamentosa desencadeados pelo uso de remédios como a ivermectina. Em março de 2021, o Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) relataram cinco casos de pacientes com hepatite medicamentosa após o uso do chamado “kit Covid”. Três deles morreram antes de conseguirem o transplante.
Além disso, ao contrário do que aponta o homem do vídeo, os sintomas da variante P1 não são diferentes de outras variantes da Covid-19. De acordo com virologistas, os sintomas são muito parecidos, como dificuldades respiratórias, tosse, febre e incômodos gastrointestinais. A diferença da variante P1 para a original é que a cepa apresenta uma taxa de transmissibilidade maior e um processo inflamatório mais intenso, o que leva ao sobrecarregamento dos serviços de saúde.
Após buscarmos por mais informações, identificamos que a Covid-19 pode sim afetar o fígado. Entretanto, a incidência não é diferente (maior) do que em outros órgãos. Na realidade, o dano causado no fígado após uma infecção pela Covid-19 não tem relação direta com a doença. As lesões hepáticas são causadas por causa da resposta inflamatória do organismo (a chamada tempestade de citocina), ou seja, trata-se de um efeito colateral.
Por fim, o vídeo acabou sendo desmentido por serviços de checagem no Brasil. De acordo com a Agência Alagoas, do Governo do Estado de Alagoas, apesar de alguns pacientes com Covid-19 apresentarem alterações no fígado durante a infecção, isso não significa que o órgão, necessariamente, adoeça (a ponto de perder suas funções) ou seja comumente afetado. Além disso, o serviço destaca que a ivermectina não possui comprovação científica e, ao contrário do que é apontado nas imagens, o remédio pode sim desenvolver quadros de hepatite medicamentosa (que já foram comprovados no país).
Em resumo: a história que diz que a nova cepa da Covid-19 ataca o fígado, causa hepatite medicamentosa, apresenta novos sintomas e tratamento precoce com ivermectina cura a doença é falsa! Como explicado pelos virologistas, os sintomas da doença não mudaram completamente: tosse, desconfortos respiratórios, febre e problemas gastrointestinais seguem aparecendo. Além disso, a Covid-19 pode afetar sim o fígado, mas não de forma direta. As complicações ocorrem por causa da resposta inflamatória do organismo (tempestade de citocina). Se isso não bastasse, já está mais do que comprovado que a ivermectina não consegue prevenir e muito menos curar a Covid-19 (além de ter a capacidade de desencadear quadros de hepatite medicamentosa). Ou seja, a história não passa de balela.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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