Boato – Mike Yeadon, ex-vice-presidente da Pfizer, está certo ao dizer que a pandemia da Covid-19 já chegou ao fim e não há necessidade de vacinação.
Infelizmente, a pandemia da Covid-19 não mostrou só o lado bom, generoso e caridoso das pessoas, mas também evidenciou o pior lado de alguns cidadãos. Há meses temos desmentido informações falsas, perigosas e óbvias.
Apesar disso, muita gente ainda insiste em criar e disseminar informações falsas sobre o vírus e a doença. E, dessa forma, colocando a vida de muitas pessoas em risco.
Nos últimos dias, uma dessas histórias começou a circular com força nas redes sociais. Segundo uma publicação, o Dr. Mike Yeadon, ex-vice-presidente da Pfizer, teria dado uma declaração polêmica em um artigo assinado no dia 16 de outubro de 2020. De acordo com a mensagem, o artigo apontava para o fim da pandemia e a não necessidade de se tomar vacinas.
Pandemia já acabou e não há necessidade de vacinas?
A informação, é claro, atingiu milhares de pessoas e fez grande sucesso nas redes sociais, especialmente, no WhatsApp, no Facebook e no YouTube. As publicações já contam com centenas de compartilhamentos. Apesar disso, a história não passa de balela.
Não foi uma, nem duas e muito menos três vezes que já cansamos de falar e repetir aqui sobre absurdos ditos por profissionais da saúde. Infelizmente, o cargo de médico, enfermeiro e até de pesquisador não quer dizer, necessariamente, que a pessoa seja inteligente ou que divulga somente achados científicos. E muito menos exime a pessoa de falar bobagens por aí. É triste? Bastante! Mas acontece com certa frequência.
Ao longo da pandemia, observamos muitos casos parecidos. Recentemente, a equipe do Boatos.org desmentiu um texto de uma médica simpática ao presidente Bolsonaro que possuía diversas informações falsas. Também desmentimos médicos negacionistas na Espanha (no caso médicos por la verdad) e nos Estados Unidos (no caso dra. Stella Emanuel).
Com isso, muitas pessoas têm se aproveitado dessas falas para disseminar informações falsas por aí. Em muitos casos, inclusive, alguns dados são ocultados, levando ainda mais desespero para a população. Com a história de hoje, não foi diferente.
Na versão brasileira da história, pessoas esconderam uma informação um tanto quanto importante. Mike Yeadon, ex-vice-presidente da Pfizer, não disse que a pandemia acabou no mundo todo, mas sim no Reino Unido (onde ele vive). De uma forma ou de outra, a informação ainda segue errada, mas é importante destacar como as histórias vão se modificando ao longo do tempo e desinformando ainda mais. Após lermos todo o texto, encontramos três afirmações que, além de falsas, precisam ser esclarecidas. Vamos lá!
Fake #1: A pandemia acabou e chegamos à imunidade de rebanho
Os quase 63 milhões de casos já registrados, os quase 1 milhão e meio de mortos e a disparada nos números mundiais vítimas e infectados dizem justamente o contrário! A pandemia não só não acabou, como continua firme e forte. Segundo o Centro de Controle de Epidemias do Imperial College, de Londres (Inglaterra), o Brasil já registra a maior taxa de transmissão da Covid-19 desde maio de 2020, quando a pandemia vivia seu ápice. Atualmente, essa taxa é de 1,30. Em maio de 2020, esse número chegou a 1,31.
Se isso não fosse suficiente, essa ideia de “imunidade de rebanho” contra a Covid-19 é completamente equivocada. Esse termo é usado para definir uma imunidade coletiva, isto é, quando uma porcentagem de indivíduos de um grupo fica imune à uma doença transmissível. Entretanto, em termos práticos, essa “imunidade de rebanho”, geralmente, é conquistada por meio de vacinação em massa (e não infectando toda a população com a doença). Isso porque, a ação de deixar todos doentes pode ser bastante perigosa. Hoje, temos dados suficientes para saber que a Covid-19 pode ser bastante imprevisível e levar à óbito diversas pessoas saudáveis. Além disso, deixar todo mundo doente ao mesmo tempo, com certeza, teria implicações terríveis ao sistema de saúde (que, com certeza, entraria em colapso e não daria conta de atender todo mundo). Se não bastasse, pesquisadores ainda têm dúvidas sobre o comportamento dos anticorpos após a contaminação com a Covid-19. Algumas pesquisas têm indicado que o tempo de proteção pode durar apenas alguns meses. Isso sem falar nos casos de recontaminação.
Fake #2: Não há necessidade de vacinas
A afirmação é tanto errada quanto absurda! No último século, surtos de doenças transmissíveis provaram a importância de uma vacina que pudesse proteger toda a população. Ao longo dos anos, diversas doenças foram consideradas erradicadas após a implementação do uso da vacina, como a varíola e a peste bovina. No Brasil, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerava doenças como sarampo, poliomelite e rubéola erradicadas do país. Entretanto, o discurso de movimentos antivacina e a ilusão de que está tudo bem não se vacinar, uma vez que as doenças estariam erradicadas, fez com que muitas pessoas deixassem de se vacinar e as doenças voltassem a ameaçar o país.
Então, sim. A necessidade de se vacinar é real e existe! É por meio da vacina que a população pode se prevenir de doenças e, consequentemente, estas serem erradicadas (ou controladas de uma maneira bastante eficaz).
Junte isso ao fato de que a Covid-19 pode ser bastante imprevisível, que os pesquisadores ainda não sabem, completamente, a extensão das sequelas deixadas pela doença e ainda não temos um medicamento que possa tratar a Covid-19. Ou seja, se contaminar para tentar conquistar uma imunidade que ainda é contraditória não é a melhor opção. E a maioria dos pesquisadores concordam com isso. Para um grupo de cientistas da Universidade da Carolina do Norte, que realizaram uma revisão de diversos estudos sobre estratégias de combate à Covid-19, a vacina é a melhor opção para vencer a doença.
Fake #3: A vacina será aplicada sem testes
Essa afirmação é bastante antiga e tem circulado há algum tempo, mas não passa de balela. O desenvolvimento de uma nova vacina, geralmente, demora sim. Entretanto, devido a todo o contexto causado pela pandemia de Covid-19, muitos pesquisadores estão trabalhando em conjunto e recebendo altos investimentos para o desenvolvimento de um imunizante. Por isso, a vacina contra a Covid-19 chegará mais rápido ao público. Vale lembrar também que já cansamos de dizer aqui que o desenvolvimento de uma vacina passa por vários testes e estudos rigorosos e nada é feito de um dia para outro.
Vale ressaltar que para uma vacina ser aprovada, ela precisa passar por diversas etapas de estudos, testes e aprovações. Nada acontece de um dia para o outro. Basicamente, para chegar ao mercado, uma nova vacina precisa ser aprovada nos testes laboratoriais (in vitro), em animais, em humanos (para identificar a segurança e reações adversas), em humanos (para comprovar a eficácia em um grande número de pessoas) e, por fim, na liberação pela agência de saúde responsável (no caso do Brasil, a Anvisa). Ou seja, há um longo processo até a vacina, de fato, ser aplicada na população. Além disso, se a agência de saúde responsável pela liberação não achar que a vacina é segura, ela pode decidir por não liberar o uso do imunizante.
Também é importante destacar que existe uma grande diferença entre a pressa que negligencia as etapas e a velocidade respeitando todos os protocolos (onde mais profissionais são envolvidos e acabam trabalhando, às vezes, o dobro do tempo estipulado). No primeiro exemplo, temos a vacina desenvolvida pela Rússia. Os primeiros resultados foram divulgados apenas no início de setembro de 2020 (em agosto, o grupo de pesquisadores havia divulgado que a vacina estaria pronta em meados de outubro de 2020). Na época, diversos cientistas criticaram o modo como o processo de desenvolvimento da vacina russa estava ocorrendo, indicando que o estudo teria pulado algumas etapas (o que colocaria em cheque o potencial e a segurança do imunizante).
No segundo caso, temos as vacina de Oxford (AstraZeneca) e a parceria entre a China e o Brasil (CoronaVac). Como é possível observar, ambas as vacinas cumpriram (e ainda estão cumprindo) todas as etapas necessárias para o desenvolvimento de um imunizante. O que ocorre aqui, na verdade, são estratégias para diminuir o tempo até se chegar em uma vacina eficaz. Dentre essas estratégias, está a realização, simultânea, da pesquisa em diversos centros de pesquisas espalhados ao redor do mundo. Com um maior número de cientistas envolvidos no estudo, além de maiores investimentos financeiros, a velocidade para o desenvolvimento da vacina se acelera.
Por fim, ao pesquisar na internet por mais informações sobre o caso, descobrimos que a história já foi desmentida em inglês. De acordo com a página Health Feedback, nenhuma das afirmações apontadas no texto possuem embasamento científico e muitas delas não refletem o que, de fato, estaria acontecendo na realidade.
Em resumo: a história que diz que a pandemia já acabou e não existe necessidade de tomar vacina é falsa! Apesar do texto ter sido retirado de uma publicação do ex-vice-presidente da Pfizer, ele está recheado de fake news. Como já estamos cansados de explicar, a pandemia existe, é real e causa mortes; não podemos falar em imunidade de rebanho sem uma vacina e, por fim, a população não será cobaia de nenhuma vacina (tudo está sendo testado e a vacina só será aplicada quando tiver o aval da agência reguladora, no caso, a Anvisa). Ou seja, tudo não passa de boato. Não compartilhe!
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99458-8494.
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