Boato – Saiu a comprovação científica da ivermectina e a FDA aprovou o uso de hidroxicloroquina em todos os pacientes com o Covid-19.
Chegamos a um nível em relação às fake news da pandemia na qual a maioria das teses já foram desmentidas. No caso que vamos falar agora, trata-se de uma junção de algumas notícias falsas que já desmentimos aqui no Boatos.org.
Um texto com o título “Saiu a comprovação científica da Ivermectina e a FDA aprova o uso de hidroxicloroquina em todos os pacientes com o Covid-19” está sendo acompanhando de mensagens que apontam que o estudo seria um site chamado “https://ivmmeta.com/” e que a FDA e a Novartis apontavam que a hidroxicloroquina seria a cura da Covid-19. Leia trechos do texto que circula online:
Saiu a comprovação científica da Ivermectina e a FDA aprova o uso de hidroxicloroquina em todos os pacientes com o Covid-19 “…para os que querem continuar lucrando, e enfatizo o politicamente, com o pânico e o desespero, o pensamento que predomina é: “A cura não pode chegar tão rapidamente assim!”
Saiu o Randomizado da Ivermectina, agora com comprovação científica! Desde o início desta pandemia o coronavírus foi usado politicamente, muito se falou em ciência e pouca ciência foi verdadeiramente ouvida e utilizada. Para muitos políticos, imprensa , instituições como a OMS, a notícia acima é um desastre. Pronto esta ai a eficácia e a comprovação cientifica, segue link: https://ivmmeta.com/ […]
Sobre a hidroxicloroquina que também foi rechaçada politicamente, por não ter comprovação científica para tratamento da Covid, a FDA, a agência americana de regulamentação de remédios, aprovou o uso de hidroxicloroquina em todos os pacientes com o Covid-19. A jornalista Elisa Robson escreveu: “O FDA, a agência americana de regulamentação de remédios, aprovou o uso de hidroxicloroquina em todos os pacientes com o Covid-19. O CEO da Novartis anunciou que já tem em mãos os resultados de pesquisas que comprovam que a hidroxicloroquina mata o vírus. Tanto que a empresa vai doar 130 milhões de doses. O custo médio do medicamento no mundo é de US$ 4,65 por mês. […]
O fato é que, desde o começo, o coronavírus foi usado politicamente. Portanto, para muitos agentes políticos (tanto os que militam em partidos, quanto os que estão no comando de instituições como OMS ou nas redações dos jornais) as notícias acima são, na verdade, um desastre. Pois por trás disso, para os que querem continuar lucrando, e enfatizo o politicamente, com o pânico e o desespero, o pensamento que predomina é: “A cura não pode chegar tão rapidamente assim!” https://www.novartis.com/news/media-releases/novartis-commits-donate-130-million-doses-hydroxychloroquine-support-global-covid-19-pandemic-response
Saiu a comprovação científica da ivermectina e FDA aprova uso da hidroxicloroquina?
O texto se espalhou com muita força na internet e só serviu como reforço para aquelas pessoas que, a essa altura do campeonato, ainda aponta que a cura está na ivermectina e na hidroxicloroquina. Só que a mensagem não passa de mais do mesmo e, claro, não procede.
Na realidade, o texto em questão é a junção de três notícias falsas já desmentidas aqui. Nem o site citado pode ser considerado um “estudo” ou “comprovação científica” tampouco o FDA aprovou a hidroxicloroquina para todos nos EUA ou a Novartis distribuiu o remédio. Relembre o que escrevemos a respeito:
Comprovação científica da ivermectina
Como já dissemos anteriormente, a ivermectina não possui eficácia comprovada contra a Covid-19 (nem em tratamentos precoces, muito menos em tratamentos tardios). Toda essa ilusão começou em abril de 2020, depois de um estudo australiano indicar certa eficácia da substância em testes in vitro (laboratório). Entretanto, o resultado não se repetiu em estudos in vivo (com pessoas).
Recentemente, a equipe do Boatos.org elaborou um texto explicando tin tin por tin tin a questão da ivermectina. Na matéria, é possível perceber que nenhum estudo sério indicou eficácia da substância em humanos. Se isso não bastasse, o uso indiscriminado da ivermectina pode levar ao desencadeamento de hepatites medicamentosas. Nos últimos meses, diversos casos da doença relacionados ao uso de ivermectina foram registrados por médicos no país.
Além disso, a farmacêutica Merck Sharp & Dohme (MSD), fabricante da ivermectina, emitiu um comunicado, no dia 4 de fevereiro de 2021, informando que a substância não possui eficácia científica contra a Covid-19. Na nota, a farmacêutica alegou que os dados disponíveis em estudos sobre a ivermectina não conseguem sustentar a segurança e a eficácia da substância para além das doses e indicações já recomendadas pela empresa.
Pois bem, se isso não fosse suficiente, ao acessar o site indicado na publicação, percebemos que se trata de uma página que reúne diversos estudos sobre a ivermectina, mas sem nenhum critério científico. De acordo com o serviço de fact-checking Aos Fatos, o site indicado na publicação, bem como outras páginas, acabam reunindo pesquisas com metodologias bem embasadas com estudos sem o menor rigor científico, pesquisas preliminares e estudos sem revisão por pares (outros cientistas, isto é, pesquisas que não passaram por avaliação de revistas científicas).
Em fevereiro de 2021, a equipe do Boatos.org chegou a desmentir uma história bastante parecida. Na oportunidade, toda a informação se baseava em um site similar, que não possuía rigor científico e também juntava estudos completos com pré-prints e pesquisas sem metodologias claras.
Por fim, a Sociedade Francesa de Farmacologia e Terapêutica também alertou que a maioria dos estudos publicados sobre a ivermectina são inconclusivos. De acordo com a instituição científica, grande parte são pré-prints (sem revisão por pares) ou com metodologias tão enviesadas que a interpretação dos resultados acaba sendo difícil e não permite tirar conclusões. Outras agências reguladoras, como a FDA, nos EUA, e a SAHPRA, na África do Sul, também já se posicionaram sobre a falta de dados científicos a respeito do uso da ivermectina na Covid-19, não recomendando seu uso para este fim.
FDA aprova hidroxicloroquina
A mensagem em questão, que mostra o avanço nas pesquisas, seria ótima se retratasse a realidade na questão da hidroxicloroquina. O grande problema é que, ao apressar o processo, e apresentar a cura, a mensagem causa, no mínimo, duas consequências: 1) De relaxamento em questão as medidas de isolamento. 2) De incentivo à automedicação.
E aí está. A primeira informação errada na mensagem é a que aponta que a hidroxicloroquina está liberada para todos os pacientes com Covid-19 nos EUA. A FDA, no dia 28 de março, liberou o uso da hidroxicloroquina nos EUA doados pela Sandoz para que sejam realizados testes. O próprio comunicado aponta que o remédio será usado para “certos pacientes” (não para todos).
No comunicado, com as diretrizes de uso para o uso do produto, a FDA deixa bem claro que “Não há produto aprovado pela Food and Drug Administration dos EUA (FDA) disponível para tratamento da COVID-19” e que a autorização é para que o produto seja usado em caráter experimental.
No mesmo documento, a FDA alerta para os efeitos colaterais e proíbe os testes em pessoas com diversos problemas de saúde como pessoas com comprometimento no fígado, diabetes, grávidas, lactantes, com doenças “severas”, com problemas sanguíneos e que estão tomando remédios como azitromicina, antiácidos, insulina e outros remédios para diabetes. Ou seja: a FDA esteve longe de “liberar para todos”.
Agora, vamos à segunda parte da história. A Novartis, de fato, anunciou a doação de 130 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina para a Suíça (algo que é suprimido no texto, o que dá a impressão de que a doação é para os EUA). Porém, no comunicado, não é dito que há estudos que “comprovem que a hidroxicloroquina mata o novo coronavírus”.
O que há é a citação de que “vários ensaios clínicos estão em andamento para pesquisar o efeito da hidroxicloroquina e cloroquina, uma substância relacionada, no tratamento do COVID-19”. “Comprovação científica” é algo muito sério para que seja “jogada ao vento”. E, no caso da cloroquina e hidroxicloroquina, ainda não há comprovações de cura.
A informação é reforçada por um comunicado do CDC. Ele deixa bem claro que não há drogas aprovadas pela FDA que previnam ou tratem o coronavírus. O CDC cita que a hidroxicloroquina e a cloroquina são usadas para a malária e que há estudos da eficácia em relação à Covid-19.
Novartis apoia e distribuiu hidroxicloroquina
Para começo de história, a publicação possui todos os elementos de fake news na internet. Ela é vaga (sequer cita o nome do CEO ou a data em que ele teria dito isso), extremamente alarmista (usa o termo “urgente” e cita uma suposta conspiração de políticos criando pânico e desespero), possui alguns erros de pontuação, pedido de compartilhamento e não cita fontes confiáveis.
Além disso, existe um vasto histórico de informações falsas relacionadas à cloroquina ou à hidroxicloroquina na internet. A equipe do Boatos.org já desmentiu inúmeras delas, como a que dizia que ministros que impediram o uso de hicroxicloroquina na França serão processados. Também a que indica que a médica Stella Emanuel teria dito a verdade sobre a hidroxicloroquina ser a cura para a Covid-19 e, por fim, a que aponta que o governador João Dória estaria tomando cloroquina para se tratar da Covid-19.
Se isso não fosse o suficiente, ainda existe um desmentido do mesmo texto aqui no Boatos.org. Na época, o foco recaiu sobre sobre a FDA (a agência de Administração de Alimentos e Drogas dos EUA). Destacamos que o comunicado da FDA “autorizando o uso da hidroxicloroquina” não dizia exatamente isso. De acordo com o documento, publicado no dia 28 de março, a FDA liberou o uso da hidroxicloroquina (doados pela empresa Sandoz) para que fossem realizados testes. O documento ainda aponta que o remédio não estava liberado para todos, mas apenas para alguns pacientes. A FDA ainda alertou, na época, que a autorização seria para uso experimental e proibia pessoas com problemas de saúde ou que estivessem em uso de determinados medicamentos de participarem dos testes.
O texto falso começou a circular em abril. De lá para cá, a FDA chegou a suspender a autorização para testes da hidroxicloroquina no dia 15 de junho de 2020. Em um comunicado, a agência afirmou que tomou a decisão com base na análise contínua do uso da substância no país e também em dados científicos.
No entanto, no dia 1º de julho de 2020, a FDA “voltou atrás” e resolveu apenas impor apenas uma advertência de uso da hidroxicloroquina ou da cloroquina fora do ambiente hospitalar ou em ensaios clínicos. A posição tomou como base o alto risco de desenvolvimento de problemas cardíacos. Mesmo assim, a FDA não autorizou o uso para “todo mundo”.
Assim como o caso da FDA, a questão do grupo farmacêutico Novartis também se tornou falsa com o tempo. De fato, no dia 20 de março de 2020, a empresa anunciou a doação de doses de hidroxicloroquina, mas o anúncio dizia “até” 130 milhões de doses e não as 130 milhões de doses efetivamente.
Tanto é que, na prática, a coisa não foi bem assim. No dia 29 de março de 2020, o grupo farmacêutico doou 30 milhões de doses de hidroxicloroquina para os Estados Unidos. Já no dia 3 de abril de 2020, a empresa anunciou a doação de uma “grande quantidade” de hidroxicloroquina para a Suíça.
Apesar das doações, a própria Novartis, que apoia o combate à Covid-19 por meio de outras doações, suspendeu suas pesquisas clínicas com hidroxicloroquina e também as doações do medicamento. De acordo com a empresa, problemas com o recrutamento de voluntários tornaria improvável a coleta de dados significativos em um período de tempo razoável para determinar a eficácia da substância no tratamento contra a Covid-19. Dessa forma, a informação de que a empresa acredita que a hidroxicloroquina é a cura e que vai doar milhões de doses é desatualizada (e mostra que algo não se sustentou ao longo do tempo).
Por fim, ao contrário do que aponta o texto, o CEO da Novartis não afirmou que a cloroquina ou hidroxicloroquina é a cura para a Covid-19. No dia 27 de março de 2020, em uma entrevista publicada pela CNBC, o CEO da Novartis Vas Narasimhan disse ser “muito cedo” para afirmar se a hidroxicloroquina poderia funcionar contra a Covid-19. Depois de meses e diversas pesquisas, ficou comprovado que a hidroxicloroquina, de fato, não funciona para esse fim.
Resumindo: o texto que está circulando na internet e fala sobre comprovação científica da ivermectina e aprovação da hidroxicloroquina nos Estados Unidos é falso. Não passa da junção de diversos boatos já desmentidos aqui.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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