Boato – O Instituto Vital Brazil confirmou que encontrou a cura da Covid-19. É um soro que produz anticorpos 100 vezes mais potentes que o humano e tem eficácia de 100% de cura.
Enquanto o Brasil espera a chegada de uma vacina, estamos presenciando um movimento estranho em redes sociais contra os imunizantes. Dentre boatos que tentam descredibilizar as vacinas, têm surgido notícias exageradas sobre remédios que seriam “confirmados” como a cura da Covid-19.
Nas últimas semanas, circularam na internet notícias apontando para “as curas confirmadas” da Covid-19 de remédios que, apesar de se mostrarem promissores em testes iniciais, ainda não têm eficácia cientificamente comprovada. O último deles aponta para o soro anticovid que está sendo desenvolvido pelo Instituto Vital Brazil.
De acordo com textos “padrão” (o que denota uma ação de robôs), uma “boa notícia” é que a “cura da Covid” seria o soro. Isso porque ele trataria a doença em estágio inicial, produziria anticorpos 100 vezes mais potentes do que o ser humano e teria, olha só, eficácia de 100% de cura. Leia a mensagem que circula online:
Viva!! Até que enfim uma boa notícia, o Instituto Vital Brazil achou a cura da Covid, em seu estágio inicial, com tratamento a base de plasma eqüino, que produz anticorpos 100 vezes mais potentes do que o humano, eficácia de 100% na cura, parabéns, Brasil.
Soro do Instituto Vital Brazil tem eficácia de 100% de cura da Covid-19?
Seria maravilhoso exaltar o trabalho do Instituto Vital Brazil, uma instituição pública que está batalhando para desenvolver um soro contra a Covid-19. Porém, o que não é “maravilhoso” (pelo contrário) é criar falsas perspectivas em relação a algo que ainda está na fase de pesquisas.
Não é verdade que já temos a confirmação de que o soro anticovid do Instituto Vital Brazil seja “a cura da Covid-19” (vale dizer que outras instituições brasileiras como o Instituto Butantan e a Fundação Ezequiel Dias também estão produção o soro para pesquisas) tampouco que tenha “100% de eficácia” e que tenha anticorpos 100 vezes maiores que humanos.
Para explicar melhor a história, temos que relembrar quais são as fases de um estudo clínico (ela vale para vacinas e para medicações). Para tanto, recorremos ao que diz esse texto da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (fizemos um resumo dele, mas aconselhamos você a ler o artigo completo no link).
De acordo com o artigo, a pesquisa é normalmente classificada em quatro fases (I, II, III, IV). No caso das vacinas contra a Covid-19, a autorização para uso está se dando após a fase III de estudos (em que a eficácia e segurança já é comprovada). Antes de começar os estudos clínicos, há uma fase de testes pré-clinicos. Nela, aspectos de segurança são avaliados em animais e são feitos testes in vitro. Apenas na fase I que começam testes em humanos.
Na fase I, os testes são feitos em grupos pequenos de humanos (20 a 100) saudáveis e que não tenham a doença. São testadas vias de administração, doses e interação com outras medicações e álcool. A intenção é verificar a segurança da medicação. Se ele se mostrar perigoso, os testes são suspensos. A fase II tem um número um pouco maior de voluntários (100 a 300) e, de certa forma, repete os testes da fase I. A intenção é, ainda, atestar a segurança.
Apenas na fase III que a eficácia começa a ser testada. Nesta fase, entre 5 a 10 mil pessoas são testadas e são feitos testes duplo-cego. Uma parcela dos voluntários recebe a medicação enquanto outra recebe um placebo. A partir daí, é definido o melhor tratamento e se o produto é eficaz. A partir da fase III, o pedido de registro já pode ser feito. A fase IV é de acompanhamento dos resultados.
Explicamos tudo isso para mostrar que podemos falar “em cura” apenas quando um tratamento ou vacina tiver passado pela fase III e ser aprovado por autoridades sanitárias. E, apesar de promissor, o soro anticovid do Instituto Vital Brazil ainda não chegou a fase I de testes. Ainda está na fase pré-clínica.
De acordo com um vídeo publicado pelo próprio Instituto Vital Brazil em dezembro, os estudos estão no desenvolvimento dos protocolos pré-clínicos e clínicos. Essa fase está sendo acertada com a Anvisa e tão logo venha a autorização serão iniciados os testes com humanos. Assista ao vídeo completo (achamos o áudio um pouco baixo, mas as informações estão boas):
Mais errado do que falar que a “cura foi descoberta” (calma aí, cloroquiners), é falar que foi comprovado “100%” de eficácia em humanos. O motivo é simples: ainda não há testes que apontem para esse 100%. Também não é exato falar que o soro tem anticorpos 100 vezes mais potentes do que o gerado por humanos. Na realidade, o valor aferido em análises preliminares (que ainda devem confirmados nos testes) é “entre 20 a 100 vezes”. Nada mal, mas não é o que está na mensagem “robótica”.
É importante citar que, em algumas versões, a mensagem é acompanhada de um vídeo da Globo News. Ele sequer é recente (é de agosto do ano passado) e em nenhum momento fala que a “cura foi confirmada”. Fala apenas no desenvolvimento do soro.
Torcemos para que o soro em questão (ou outros soros e medicações) possa ser confirmado como eficaz no tratamento contra o coronavírus. Porém, falar em “cura confirmada” antes do final dos testes pode gerar não só falsas esperanças como resultar em relaxamento das medidas de segurança e “jogar contra as vacinas” (sacou a intenção de quem tem compartilhado esse tipo de história?).
Resumindo: apesar de existir estudos de um soro anticovid por parte do Instituto Vital Brazil, é cedo para falar em cura e a informação que aponta para 100% de eficácia foi tirada “do nada”. É possível que o soro anticovid seja uma arma futura contra a doença, mas com certeza a arma do momento são as vacinas.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99458-8494.
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