Boato – O termômetro infravermelho pode causar danos à glândula pineal ao medir a temperatura na testa e trazer problemas de saúde. Por isso, não deixe as pessoas medirem a sua temperatura.
Com a pandemia, tivemos que nos adaptar a novos hábitos para voltar à rotina, dentro das possibilidades do “novo normal”. Além do uso de máscaras, higienização das mãos e distanciamento social, no retorno do funcionamento dos comércios, nos deparamos também com o uso de aparelhos para medir a temperatura corporal, os chamados termômetros com raio infravermelho, que ajudam a evitar que pessoas infectadas com coronavírus (portanto, febris) transmitam o vírus às outras nesses estabelecimentos.
E nem mesmo eles, tão simples e comuns há anos em farmácias, escaparam de virar assunto na internet nos últimos dias. Uma publicação que começou a circular recentemente no Facebook dá conta de que os termômetros infravermelhos causam danos à glândula pineal ao medir a temperatura na testa. De acordo com o textão que está sendo compartilhado, que traz o suposto relato de uma enfermeira australiana, ao expor a glândula ao raio infravermelho, poderiam surgir vários problemas de saúde, já que esta seria a responsável pelas nossas funções hormonais, sexuais e pelo sono, entre tantas outras.
Segundo a postagem, o ideal seria medir a temperatura corporal com esses aparelhos no pulso ou cotovelo, o que seria mais eficaz e menos prejudicial à saúde. Confira, a seguir, o texto original da publicação que está rodando online:
Confira o desmentido em vídeo
NÃO DEIXO MAIS MEDIR MINHA TEMPERATURA NA TESTA depois de ler esta mensagem de uma enfermeira australiana: “Estou realmente preocupada. Comecei a implementar os novos protocolos e uma das minhas novas tarefas é medir a temperatura de cada pessoa. Eu aponto para o centro de sua testa com minha arma em forma de termômetro, puxo o gatilho, espero pelo bipe e registro a temperatura. Sempre peço desculpas à pessoa antes de prosseguir!
Depois de fazer isso uma dúzia ou mais vezes, de repente tive uma percepção: Estamos sendo dessensibilizados ao direcionarmos isso à cabeça e também causando problemas de saúde potenciais ao apontar um raio infravermelho para a glândula pineal? Comecei então a medir a temperatura no pulso, que acabou sendo mais precisa, já que a testa é mais fria do que o pulso e os resultados diferem em mais de um grau em alguns casos. Fui a um shopping center e as pessoas faziam fila para medir a temperatura por um funcionário que obviamente não era médico e não foi devidamente instruído sobre como realizar esse procedimento corretamente.
Muitos ficaram chocados quando chegou a minha vez e eu peguei a arma que estava sendo apontada para minha testa e a redirecionei para meu punho. Falei baixinho, mas com firmeza, e disse ao funcionário que um termômetro infravermelho nunca deve ser apontado para a testa de alguém, especialmente de bebês e crianças pequenas. Além disso, requer conhecimento básico de como ler corretamente a temperatura de alguém, ou seja, colocar um termômetro no punho ou cotovelo é muito mais preciso e muito menos prejudicial. Foi muito perturbador para mim observar crianças se acostumando a ver um objeto em forma de arma apontado para a testa e sem nenhuma reação negativa dos adultos como se isso fosse normal e aceitável. Como profissional da área médica, recuso-me a visar diretamente a glândula pineal, que está localizada diretamente no centro da testa, com um raio infravermelho. No entanto, a maioria das pessoas concorda em passar por isso várias vezes ao dia! Nossas glândulas pineais devem ser protegidas, pois é crucial para nossa saúde agora e no futuro”.
Termômetro infravermelho causa dano à glândula pineal ao medir temperatura na testa?
A publicação viralizou rapidamente e preocupou muita gente, inclusive, os que acreditam que ela seja o “terceiro olho” e esteja ligada à espiritualidade (meditação, chakras, etc.). Mas será mesmo que o termômetro infravermelho causa dano à glândula pineal ao medir a temperatura na testa? A resposta é não! E o porquê você confere agora.
Para começar, a mensagem que compartilha a informação possui todas as características de fake news: é vaga (não diz quando e onde a enfermeira australiana teria dado o tal relato), alarmista (tem o intuito de causar medo), possui erros de português e não cita fontes confiáveis de notícias.
Além disso, tornou-se algo comum surgirem boatos online sobre instrumentos úteis contra a Covid-19, tais como máscaras, álcool gel, entre outros. Aqui mesmo no Boatos.org, nós já desmentimos vários deles desde que começou a pandemia, como aquele que dizia que a máscara supostamente ajuda o coronavírus se espalhar por causa do gás carbônico a só deveria ser usada para conversar; outro que denunciava que usar o álcool gel 70% causaria os mesmos sintomas do coronavírus e poderia matar; ou, ainda, uma história fajuta de que usar o álcool gel também poderia resultar em multa e prisão após teste do bafômetro.
Assim como nestes desmentidos, ao buscarmos mais detalhes sobre o assunto, não achamos nada em fontes confiáveis. Ao contrário disto, encontramos diversos desmentidos mundo afora, como na Índia (pelo site de fact-checking The Logical Indian), Malásia (pelo jornal New Straits Times) e Estados Unidos (pelo AP News), além de matérias em espanhol e lituano.
Em todos os casos, a tese é tratada como absurda e, inclusive, especialistas ouvidos por esses veículos descartam qualquer possibilidade de danos à glândula pineal com o uso de termômetros infravermelhos. Ao site da agência AP, o Dr. Haris Sair, diretor de neurorradiologia da Universidade Johns Hopkins, a glândula pineal não está localizada próxima à testa, como muitos pensam, mas sim, nas profundezas do cérebro, a vários centímetros do tecido cerebral. Já os termômetros infravermelhos são projetados somente para captar temperaturas da superfície da pele.
O site Universion, por exemplo, publicou um texto escrito em parceria com a International Fact-Checking Network (IFCN) explicando que esses aparelhos não emitem radiação, como raios X ou controles de televisão, e portanto, não prejudicam a pele e muito menos qualquer área do cérebro. Isso porque eles servem apenas para captar os comprimentos de onda infravermelhos naturais que o corpo emite, e não para enviar luz infravermelha ou comprimentos de onda para corpo.
E, por fim, sobre a tal enfermeira australiana, não há qualquer prova de que ela tenha falado sobre o assunto. Aliás, a única citação que vimos sobre ela foi na checagem do site World Today News. No entanto, como ficou bem claro, mesmo que a enfermeira citada realmente tivesse falado algo sobre o assunto, continuaria sendo fake, já que a teoria sobre o assunto é considerada infundada por especialistas.
Resumindo: A publicação que dá conta de que os termômetros infravermelhos podem causar danos à glândula pineal ao serem utilizados para medir a temperatura na testa não é verdadeira. Esses aparelhos são projetados apenas para captar a temperatura corporal, apenas na superfície da pele, e não para enviar luz infravermelha ou comprimentos de onda para corpo. Além disso, a glândula pineal não fica localizada próxima à testa, mas sim, nas profundezas do cérebro.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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