Boato – Vacina contra Covid-19 desenvolvida pela China é produzida com células de fetos abortados que também são usadas em cirurgia.
Parece que alguns brasileiros ainda seguem com seu ódio contra a China. Antes, só se ouvia falar no vírus que, segundo algumas pessoas, era “claramente chinês” e teria sido “produzido na China”. O fato é que o ódio não parou por aí.
Desde que as vacinas contra à Covid-19 começaram a ser testadas, uma, em particular, chamou a atenção dos brasileiros. A vacina chinesa. E a partir daí, parece que vacina chinesa contra à Covid-19 se tornou a nova “queridinha”, digo, odiada por parte da população.
Como reflexo, as fake news sobre o assunto não param de crescer. Nos últimos dias, uma história, em especial, começou a fazer sucesso nas redes sociais. De acordo com uma publicação, as vacinas chinesas estariam sendo produzidas com células de fetos abortados. Segundo o texto, a China seria o único país a utilizar esse procedimento, inclusive em cirurgias e na confecção de outros medicamentos. Confira:
“VACINAS CHINESAS CONTÊM CÉLULAS DE BEBÊS ABORTADOS – O Partido Genocida Chinês já deu provas de que não utiliza a moral para a realização de seus feitos. É ponto pacífico o fato de que eles utilizam CÉLULAS DE BEBÊS ABORTADOS para suas mirabolantes vacinas. Para a vacina contra a COVID-19, eles negam ter utilizado, mas conhecemos o histórico chinês sobre o assunto”.
Vacina chinesa contra Covid-19 é feita de fetos de bebês abortados?
A informação correu o mundo e tem causado revolta nas redes sociais, especialmente, entre os apoiadores do movimento “pró-vida”. Mas será que essa história de que a vacina da China contra à Covid-19 teria sido feita a partir de células de bebês abortados é real? A resposta é não!
Vamos aos detalhes! Desde que essa história de vacina começou a ser divulgada, o exemplar produzido pela China tem sofrido diversos ataques. A equipe do Boatos.org já desmentiu inúmeras histórias relacionadas ao assunto, como a que dizia que a empresa responsável pela produção da vacina chinesa vendia vacinas falsas para o mundo inteiro. Também a que indicava que o governador de São Paulo, João Doria, teria assinado o acordo para a produção da vacina chinesa em agosto de 2019 (antes da pandemia) e, por fim, a que apontava que a vacina chinesa, testada em São Paulo, não teria sido aplicada de verdade na primeira voluntária e tudo seria uma farsa de Doria.
Além disso, essa história de usar “fetos de bebês abortados” para fazer diversas coisas não é novidade. Em 2013, a equipe do Boatos.org já desmentiu uma história parecida. Na época, um texto dizia que diversas empresas famosas estariam usando fetos de bebês abortados para dar sabor aos alimentos (como se usar glutamato monossódico não fosse muito mais simples e barato).
Pois bem, fomos atrás da histórias e descobrimos coisas interessantes. Na verdade, toda a polêmica gira em torno de uma linha de células chamada HEK-293. Essas células são uma cultura celular bastante específica que, por sua vez, é composta de células de um rim de um embrião humano que cresceram em uma cultura de tecidos, isto é, separadas de um organismo.
O grande fato aqui é que não há uso de bebês abortados na produção da vacina. As células HEK-293 foram retiradas, pela primeira vez, de um feto abortado legalmente na Holanda, nos anos 1970. A partir daí, a biomedicina evoluiu bastante e replicar determinadas células humanas em laboratório se tornou algo bastante simples (e comum). São as chamadas linhagens celulares produzidas em laboratório. É importante lembrar que essas linhagens celulares desenvolvidas a partir de tecidos humanos já são utilizadas há muitos anos. A HEK-293 é uma das mais comuns, mas ainda existem a PER. C6 (que também tem origem fetal) e a HeLa (feita a partir de tecidos retirados de mulheres adultas).
Esse tipo de célula é usada em pesquisas científicas. Desde à microbiologia, genética, até em farmacologia. A partir dessas linhagens, é possível entender como determinada substância age nas células humanas, sem colocar um humano, de fato, em risco. Em relação às vacinas, essas linhagens são usadas durante a investigação. Cientistas aplicam o vírus (ou outro microorganismo) atenuado nas células. O vírus atenuado possui uma parte do material genético do vírus original, mas não tem capacidade para se replicar. A partir disso, as células vão gerar uma resposta imunológica, produzindo anticorpos e linfócitos T, capazes de matar as células infectadas e combater o vírus. Para se fabricar uma vacina eficaz em seres humanos, as proteínas precisam ser sintetizadas em células humanas. Ou seja, não se usa “células de bebês abortados” na vacina, mas sim proteínas produzidas por células embrionárias feitas em laboratório (o que é bem diferente de abortar um feto e usar suas células).
Se isso não fosse suficiente, a vacina “chinesa” não usa células HEK-293 durante sua produção. A vacina é produzida a partir de vírus inativados, isto é, com informações genéticas ou com componentes de vírus selvagem (incapaz de causar a doença, mas consegue induzir a produção de anticorpos específicos). A vacina da gripe, por exemplo, é feita por esse método. Além disso, cinco tipos diferentes de imunizações contra à Covid-19 estão utilizando células HEK-293 ou PER. C6 no processo de desenvolvimento de vacinas. Uma delas, inclusive, é estadunidense. Vamos ver se, depois desse texto, o boicote continuará sendo somente à vacina chinesa ou também às versões de outros países.
Em resumo: a história que diz que a vacina chinesa contra à Covid-19 é produzida com células de bebês abortados é falsa! A história não faz o menor sentido e tirou do sério muitos pesquisadores da área da saúde. A vacina chinesa não usa células de fetos abortados, mas sim vírus inativados, isto é, com informações genéticas de um vírus selvagem (que é incapaz de infectar um humano, mas consegue induzir a produção de anticorpos específicos contra o microorganismo). Ou seja, tudo não passa de balela (e das grandes). Não compartilhe!
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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