Boato – Depois de vacinarem 48 milhões de pessoas, descobriram que a vacina da gripe é um veneno mortal.
Sempre quando o mês de abril se aproxima do fim, o assunto “vacinas” volta a ser destaque na internet. Em 2016, esta procura está maior ainda graças ao surto (quase epidemia) da gripe H1N1 no Brasil. Claro que junto à procura vêm as críticas contra as vacinas.
Circula na internet um texto que aponta que a vacina da gripe seria um veneno mortal. Ou seja, quem se protege contra a gripe se “envenenaria”. Leia trechos do texto, publicado em blogs brasileiros e portugueses:
Depois de vacinarem 48 milhões de pessoas, descobriram que a VACINA DA GRIPE é um VENENO MORTAL!
Um dos possíveis efeitos secundários da vacina H1N1 é o síndrome de Guillian-Barre, a síndrome que matou e incapacitou centenas da Americanos na campanha de vacinação H1N1 em 1979 com 500 casos confirmados deste síndrome, a vacina foi retirada do mercado 10 dias depois após vacinarem 48 milhões de pessoas, tendo feito mais vitimas que o vírus H1N1.
Esta síndrome ataca diretamente o sistema nervoso causando problemas de respiração, paralisia e até a morte. Foi revelado que as vacinas ainda podem conter um outro perigo. Em muitas vacinas produzidas no final dos anos 80 e início dos anos 90 foram utilizados produtos bovinos obtidos em países onde a BSE, encefalite bovina espongiforme (doença da vaca louca), era um risco substancial.
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Médicos, farmacêuticos e meios de comunicação continuam a mentir sobre mercúrio em vacinas. A grande mídia abandonou completamente a ciência na sua propaganda para impulsionar a vacina contra a gripe, deixando inteiramente de mencionar qualquer um dos riscos associados às vacinas.
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Se tomas vacinas contra gripe, estás a ser envenenado por charlatães! Sabemos também que as vacinas contra a gripe contêm produtos químicos neurotóxicos e metais pesados em concentrações alarmantes. Isso é facto científico irrefutável. Sabemos também que não há forma “segura” de mercúrio assim como não existe forma segura de heroína. Todas as formas de mercúrio são altamente tóxicos quando injetados no corpo (acetato, metil, orgânico, inorgânico).
Vacina da gripe é veneno mortal?
O texto é assustador e causa realmente preocupação. Mas será mesmo que é verdade que a vacina contra a gripe é um veneno? Olha, a história não é bem assim. Por isso, vamos aos fatos.
Para começar, o conceito de “veneno” vendido no título da matéria é um tanto quanto amplo. É óbvio que todos os remédios (não há um que não se enquadre nisso) têm riscos e efeitos colaterais. Porém, a ideia de veneno dá a impressão de que “tomou, morreu”. E claro, a realidade mostra dados bem diferentes.
Os “riscos” das vacinas apontados nesta versão do texto são os seguintes: síndrome de Guillain Barret, doença da vaca louca e o nível de mercúrio acima do limite. Desta vez, a história da narcolepsia (refutada aqui) não foi citada.
Vamos começar pelo final. A história do mercúrio já foi desmentida no Boatos.org aqui (dá uma lida lá). Sobre as vacinas e síndrome de Guillain Barret, a própria Organização Mundial da Saúde aponta que não há provas da relação das doenças. Tanto que em 1976 (e não 1979) metade das pessoas que tiveram a síndrome (80 de 160) não tinham recebido a vacina da gripe na Grã-Bretanha.
Sobre a ligação com a vaca louca também não há provas, só conjecturas. Vale lembrar que que há pouquíssimos casos da doença no mundo nos últimos anos. E nenhum com ligação com vacinas.
Para além disso, quando falam em perigo mortal as pessoas se esquecem de comparar os casos de mortes por causa da vacina com a própria H1N1. Só para refrescar a memória das pessoas: na pandemia de 2009, 18 mil pessoas morreram por causa da doença em todo o mundo. Só neste ano e em São Paulo, 91 pessoas morreram. Então: o que é mortal para você?
Resumindo: não estamos falando que não há efeitos colaterais nem riscos em tomar a vacina Como todo remédio, o corpo pode ter reações contrárias ao medicamento. Porém, apontar que a pessoa pode ter a doença da vaca louca, outras doenças bizarras e coroar com o adjetivo “veneno mortal” nada mais é do que sensacionalismo. E boato.