Boato – O vírus da febre amarela sofreu uma mutação. Por causa disso, a vacina atual contra a doença não protege mais. A prova está em texto da Fiocruz.
Mesmo com intensas campanhas de divulgação na mídia, as autoridades de saúde não estão conseguindo cumprir as metas de vacinação contra a febre amarela. A principal causa do revés é a grande quantidade de boatos que circulam na internet. Desde quando o assunto veio à tona na mídia, o que não faltou foi bobagem e desinformação sobre o assunto (temos até uma lista aqui). Recentemente, mais uma começou a circular.
De acordo com um texto que está viralizando no WhatsApp, uma mutação no vírus da febre amarela está fazendo com que a vacina perca a eficácia. A mensagem vem com um link do site da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que seria a prova de que a vacina atual não protege mais. “Está confirmada suspeita. O vírus ja mutou. A vacina atual pode não proteger. Evitar locais com incidência da doença. E é mais agressivo”, diz.
Mutação no vírus da febre amarela causa ineficácia de vacina?
Assim como outros boatos sobre a febre amarela (tanto os que causam pânico e uma corrida aos postos como os que fazem as pessoas fugirem da vacina), a mensagem com o link se espalhou muito na internet. Mas será mesmo que essa história de vacina não ter mais eficácia é válida? A resposta é não. Para você entender tudo, vamos aos fatos.
Para começar, o texto segue aquele roteiro básico dos boatos online: é vago, tem erros de português e caráter (muito) alarmista. Só faltou o pedido de compartilhamento para fechar o pacote completo, como pode ser visto abaixo:
Para além disso, há um ponto muito importante. Imagine o peso que não teria uma notícia como esta. Viraria manchete em tudo que é noticiário. Sabe quantas fontes sérias falaram no assunto? Nenhuma.
Aliás, para desmentir a história não seria preciso nem ir tão longe. Apenas clicar no link que acompanha a mensagem. De fato, a Fiocruz estava investigando uma mutação no vírus. Porém, o mesmo texto aponta que a mutação não tem, como consequência, a ineficácia da vacina. Leia:
Sobre um possível impacto para a vacina disponível, os pesquisadores explicam que o imunizante adotado atualmente protege contra genótipos diferentes do vírus, incluindo o sul americano e o africano. Além disso, as alterações detectadas no estudo não afetam as proteínas do envelope do vírus, que são centrais para o funcionamento da vacina. Eles ressaltam que as sequências genéticas completas dos vírus analisados no estudo já foram publicadas no GenBank, de modo a estarem disponíveis para comparações que possam ser realizadas por outros cientistas do Brasil e do mundo.
A mesma informação foi confirmada quando entramos em contato com a Fiocruz, que produziu a seguinte nota de esclarecimento sobre o caso no dia 27/02/2018:
Em relação aos boatos que têm circulado em mídias sociais sugerindo que a vacina para febre amarela supostamente não seria eficaz por conta de mutações identificadas no vírus, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) esclarece que:
– O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizou um estudo para acompanhar possíveis mudanças genéticas no vírus da febre amarela em circulação no país. – Foram identificadas mutações no vírus. Esses resultados foram publicados em 2017. – Conforme divulgado textualmente na própria comunicação original efetuada pela Fiocruz em 2017, não há qualquer impacto destas mutações para a eficácia da vacina.
Já deu para ver que a informação que aponta que a mutação do vírus causou a ineficácia da vacina não procede. Porém, gostaríamos de deixar uma última explicação: a vacina contra a febre amarela tem, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, 99% de eficácia.
É um índice alto. Mas vale dizer que o conselho de continuar se cuidando com o mosquito mesmo depois de tomar a vacina é válido. Nessa história, só tem uma coisa que não é válida: deixar de tomar a vacina se você estiver em uma área de risco. Neste caso, o seu 99% de proteção vai cair para 0%. E ninguém quer isso, não é verdade?
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.