Boato – O Zika vírus é uma arma biológica criada para controle populacional.
O assunto é sério. Não há espaços para piadas nem meias verdades quanto à questão do zika. O vírus se espalha rápido, o número de casos já chegou aos milhares na América Latina e a Organização Mundial de Saúde acaba de defini-lo como uma emergência global.
A batalha contra o Aedes Aegypti nunca foi tão intensa e até os governos de países com surto de zika vírus (como a Colômbia) já aconselham as mulheres a não engravidarem nos próximos meses. Tudo em prol de conter o aumento mais que expressivo dos casos de microcefalia em bebês (que embora ainda não comprovado, acredita-se ser consequência do zika vírus nas gestantes).
Como bem podemos observar, há muito com o que se preocupar no momento. Como se tudo isso não bastasse, tem pipocado na internet uma coleção de teorias conspiratórias sobre o assunto. Entre elas, a mais chocante – o zika vírus foi inventado para ser uma arma biológica de controle populacional.
A seguir, destrinchamos essa história:
‘O vírus que foi descoberto em 1947, na verdade não foi descoberto de maneira natural, e sim pela bilionária Fundação Rockfeller, em uma pesquisa em um macaco, fazendo muitos acreditarem que fora o resultado de algum tipo de experimento. Desde então, casos do Zika foram extremamente raros, porém nos últimos anos a número de casos se tornou alarmante na América do Sul, especialmente no Brasil.’
Certo e errado. Sim, o vírus foi descoberto em 1947 pela Fundação Rockfeller, eles próprios reconhecem esse fato. E não, os casos de zika não eram extremamente raros. Desde que foi descoberto, houve ocorrência de contaminação por zika em diversos países africanos e em 2007 na Ilha de Yep, na Micronésia, um surto atingiu 70% da população. Em 2013 a Polinésia Francesa registrou mais de 10 mil casos do vírus.
‘Curiosamente, essa epidemia no Brasil coincide com os mosquitos geneticamente modificados em 2012, pela companhia britânica Oxitec. Não apenas a epidemia começou após a liberação dos mosquitos de laboratório, como também ocorreu na mesma área’.
Placa vermelha de inverdade para esta afirmação também. Acima já mencionamos que em diversos países houve registros de zika vírus muito antes de 2012. Além disso, os mosquitos geneticamente modificados e liberados na natureza têm como objetivo central conter a proliferação do Aedes Aegypti, vetor do zika, assim como a Dengue e a Chikungunya. Essas doenças são o centro das atenções de países latino-americanos há muitos anos. Outra afirmação errada, os mosquitos geneticamente modificados foram liberados no interior de São Paulo e o primeiro surto de zika no Brasil ocorreu no nordeste brasileiro.
‘Coincidência? Uma das teorias envolve o interesse em controle populacional, relação com a indústria das vacinas e Bill Gates, o fundador da Microsoft e, curiosamente, dono da Oxitec, a empresa que realiza os testes dos mosquitos geneticamente modificados no Brasil. A teoria afirma que a melhor maneira de realizar um controle da população seria atingindo mulheres grávidas, gerando uma predisposição ao vírus com a ministração de “vacinas” suspeitas.’
A ideia de que o zika vírus pode ser uma arma de controle biológico é ilógica. Primeiro porque os sintomas da doença são relativamente ‘brandos’, muito semelhantes a uma gripe forte, como febre e dores de cabeça. Segundo, o argumento de que as grávidas são a chave do processo de controle da população também não serve porque o vírus não é geneticamente transmissível e não causa danos como infertilidade, por exemplo. Sobre vacinas suspeitas ministradas nas gestantes, já esclarecemos aqui no Boatos.org uma versão semelhante dessa história, falsa, claro.
‘Obviamente, eles alegam que a vacina é vendida apenas para fins científicos, caso contrário não poderia ser vendida. Já o que quem comprar fará, é outra história. Para os que acham que não passa de uma teoria conspiracionista, a imagem abaixo mostra o produto sendo vendido no site da ATCC, com a referida origem em 1947, e a fonte sendo de um experimento em um macaco na Uganda.’
A vacina de fato é vendida pela Fundação Rockfeller para fins científicos e de estudo, e não é como comprar um Iphone na Black Friday, trata-se de um processo burocrático, que envolve comprovações de pesquisa, selos e permissões, como o próprio site da ATCC esclarece.
Este texto conspiracionista circulou em inúmeras páginas de língua inglesa e foi traduzido ao pé da letra para ser repassado aqui no Brasil. Até o site Independent discutiu as leviandades destas teorias da conspiração. Vale lembrar, inclusive, que argumentos semelhantes surgiram na web quando houve o surto de Ebola em 2014.
Enfim, nosso mote é bem simples: não acredite em tudo que lê e colabore no combate ao Aedes Aegypti, porque ele é só um simples mosquito, mas todo o resto é muito sério.